Google fatura quase US$ 5 bi por ano com conteúdo produzido pelas empresas jornalísticas, diz pesquisa

 
 
JORNAL NORDESTE | com Jornal ANJ Online.

O Google arrecadou em 2018 pelo menos US$ 4,7 bilhões com o rastreamento e a captura de conteúdo produzido por jornais e outras empresas jornalísticas a partir de seu mecanismo de busca na internet e do Google News. A empresa norte-americana não pagou um centavo aos publishers pelo uso das notícias. Os dados são de um novo estudo divulgado nesta segunda-feira (10) pela News Media Alliance (NMA), associação que reúne cerca de duas mil organizações de mídia nos Estados Unidos e no Canadá. O relatório revela ainda que o conteúdo jornalístico é cada vez mais importante para o Google no engajamento de sua audiência, o que garante mais eficiência aos anúncios digitais expostos nas plataformas da gigante digital.

A pesquisa da NMA revela que, desde janeiro de 2017, o tráfego da pesquisa do Google para sites de publishers aumentou em mais de 25%, para aproximadamente 1,6 bilhão de visitas por semana em janeiro de 2018. Cerca de 40% dos cliques nas consultas de tendências nos mecanismos de buscas do Google, ressalta o estudo, são de notícias.

O presidente e CEO da NMA, David Chavern, destacou que o estudo aponta claramente para o fato de o Google estar adaptando e criando produtos para manter os usuários dentro do seu próprio “ecossistema”. Dessa forma, salienta ele, afasta os consumidores de notícias dos sites dos jornalísticos.

“Isso significa que mais dinheiro volta para o Google e não para os publishers que produzem o conteúdo”, alertou Chavern. O relatório indica que, em 2018, o número de visitantes únicos mensais nos Estados Unidos para o Google News superou o dos principais sites de notícias, como os do The New York Times, da CNN e do Huffington Post. O estudo, que contém análises de especialistas da consultoria Keystone Strategy, mostra ainda que os produtos de notícias do Google permitem capturar valiosos dados de usuários que ajudam a melhorar seus serviços principais. O valor das informações coletadas dos consumidores sempre que clicam nas reportagens não foi contabilizado pelo estudo da NMA.

“Eles ganham dinheiro com esse arranjo, é necessário que haja algum resultado para os produtores de conteúdo”, ressaltou Chavern. “Os publishers precisam continuar investindo em jornalismo de qualidade, e eles não podem fazer isso se as plataformas tiverem o que querem sem pagar por isso. A informação quer ser livre, mas os repórteres precisam ser pagos”.

A pesquisa da Keystone Strategy tem por base uma estatística tornada pública quando um executivo do Google estimou que o Google News arrecadou US$ 100 milhões em 2008. O estudo também observou o quanto as receitas da empresa cresceram desde então, entre outros fatores.

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos realiza nesta terça-feira (11) uma audiência sobre a relação entre as grandes empresas de tecnologia e a mídia. Chavern disse esperar que o levantamento abra caminho para aprovação do Journalism Competition and Preservation Act, projeto de lei que tramita no Congresso norte-americano e que trata da preservação e competição da indústria jornalística no país. O projeto prevê uma isenção temporária (de quatro anos) das empresas de produção de conteúdo jornalístico a sanções antitruste, de modo que elas possam negociar coletivamente junto às gigantes digitais na direção de uma divisão na receita obtida com as notícias. 

O projeto tem apoio dos dois principais partidos norte-americanos, o democrata e o republicano, tanto no Senado como na Câmara dos Representantes, além do presidente do subcomitê antitruste do Comitê do Judiciário da Câmara. "Pedimos uma legislação que forneça um porto seguro limitado para publishers poderem negociar coletivamente melhores termos com plataformas como Google e Facebook", disse Chavern. "Esta é a única solução para corrigir o atual desequilíbrio do mercado, que permite que as plataformas dominem a web e a infraestrutura de publicidade relacionada, além de controlar quem vê, e quando, o conteúdo dos publishers".