ETC oferece vagas para dependentes químicos

 
 

A Escola Técnica de Ceilândia disponibilizou, este ano, 10 vagas destinadas a dependentes químicos que passaram pela fase de tratamento. São cinco cursos profissionalizantes: marcenaria, operador de computador, programador web, assistente de recursos humanos e eletricista predial de baixa tensão. A iniciativa é da Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus) em parceria com a Secretaria de Educação (SEEDF) e articulado pelo Conselho de Políticas sobre Drogas do Distrito Federal (Conen-DF).

O objetivo é contribuir para a reinserção de dependentes químicos na sociedade. O projeto piloto é um instrumento de inclusão social e, também, de prevenção a possíveis regressos às drogas, uma vez que contribui para a diminuição dos índices de desemprego entre os adictos e oferece dignidade à pessoa humana.

A professora Paula Ribeiro, representante da SEEDF no Conen-DF, explica que comunidades terapêuticas e grupos de apoio ajudaram a definir quem seriam os estudantes.  “A Sejus mantém 13 comunidades terapêuticas e também faz articulação com grupos de apoio, como o Narcóticos Anônimos, os Alcoólicos Anônimos ou grupos religiosos, sempre trabalhando com essa temática. Nós divulgamos essa proposta de que a gente teria uma abertura, primeiramente nesse momento piloto, aqui na Escola Técnica de Ceilândia. E aí nós recebemos esses 10 nomes diante das vagas que estão disponíveis”, conta a conselheira. A proposta é expandir o projeto para todas as escolas técnicas do DF e, também, para a Escola de Música.
 

Diversidade

A Escola Técnica de Ceilândia (ETC) existe desde 1982. Atualmente, a unidade que nasceu como centro de educação para o trabalho, oferece cursos nas áreas de informáticas, administração, logística, entre outros. Ela atende cerca de 2,7 mil estudantes em três turnos, nas modalidades presenciais e à distância. A unidade conta com 110 professores e formou mais de 50 mil alunos, nesses 37 anos de atividade.

O diretor da ECT, Joubert Almada Corrêa, conta que os frequentadores da escola são variados, pessoas dos 15 anos aos 80, e com diferentes histórias de vida. Sendo assim, seria natural topar participar do projeto piloto para a reinserção de dependentes químicos na sociedade por meio da formação profissionalizante. “A procura da Sejus foi após nós já termos aberto as vagas para o público. Então, aquelas vagas que ainda não tinham sido preenchidas, nos demos um leque dentro dessa vagas remanescentes. E eles preencheram as vagas. Eles que escolheram os cursos. Escolheram de assistente administrativa, assistente recursos humanos, web designer, marcenaria e elétrica residencial “, afirma Joubert.

A Coordenação Regional de Ensino de Ceilândia intermediou o contato entre a Sejus e a ETC. “De repente você passa a fazer com que a pessoa consiga se reinserir de verdade na sociedade, trabalhando, tendo uma forma de sustento e até de sustentar sua família”, diz Marcos Antônio de Sousa, coordenador regional de ensino de Ceilândia.

 
Reinserção

Pedro* é um dos dez beneficiados com a iniciativa. O jovem de 15 anos se envolveu com drogas aos 13. Passou por tratamento em uma comunidade terapêutica e há 1 ano e 5 meses ele está limpo, sem usar entorpecentes. O adolescente, morador de Taguatinga, começou a estudar web designe e tem planos. “Eu quero implementar o meu currículo, até mais para minha faculdade. Eu preciso do curso de informática, pelo menos o básico, porque eu vou fazer engenharia. Então preciso da informática e o Autocad para fazer o cadismo e depois a engenharia. Mas até o momento, o curso está sendo maravilhoso. No quesito de se manter limpo, é ocupar a mente. Tem uma frase que se dizia na clínica que é: mente vazia, oficina do diabo. Então no curso, eu não penso em droga, não penso em usar. Eu penso que, quando eu sair daqui, vou para e escola ou vou para minha casa” relata, Pedro*.

Boanerges* mora na Candangolândia e aos 43 anos conta que, após 20 anos de dependência química, está há 7 anos e 7 meses limpo. Orgulhoso da recuperação, ele teve a ajuda de um grupo de apoio para controlar o vício que surgiu por volta dos 20 anos de idade. Agora, voltou a estudar e futuramente deve se tornar operador de computador, formado pela ETC.

“O projeto é ótimo e está aqui para ajudar nessa questão da reinserção. A profissionalização abre portas para o pessoal ser reinserido. Tem muita gente aí que precisa só de um ato de carinho, de amor. Eu tô aqui porque é possível. Estou amando o curso, as instalações e professores são maravilhosos” avisa, com brilho no olhar. Apesar de não criar expectativas, Boanerges* tem um meta: “aprendi viver o dia de hoje. Para mim basta o dia de hoje, o agora. O passado já passou e no futuro, sou impotente. No meu caso, eu vou falar que eu era mestre começar alguma coisa e nunca concluir. Então eu quero concluir isso”.

Paula Ribeiro conta que o retorno visto, apenas na primeira semana de aula, já mostra o sucesso da iniciativa. “Eu participei pessoalmente do processo de matrícula e estou acompanhando os primeiros dias de aula. Tenho contato direto com essas pessoas que estão matriculadas.  Todos os dias nós recebemos elogios e agradecimentos. Esse público tem uma baixa autoestima pelo processo e experiência de vida que eles tiveram. Então, eu percebo, já aqui nesse âmbito, de levantar a autoestima dele, de ampliar os horizontes, para uma vida diferente da que eles passaram. Isso a gente já está contribuindo e é claro que a gente quer ver o final do curso, a formatura e, lógico, trazê-los inserido no campo de trabalho que eles escolheram”, garante.


O conselho

A atuação do Conen-DF está vinculado à Secretaria de Estado de Justiça e Cidadania do DF e é composto por representantes de todo o governo do DF, inclusive da sociedade civil. Para Paula Ribeiro, a atuação do grupo foi fundamental para que o projeto saísse do papel. “O conselho está aí para viabilizar as políticas públicas sobre drogas no âmbito do Distrito Federal. Então, nós temos três áreas principais: prevenção, tratamento e reinserção social. Dentro desses três eixos, o conselho vai se organizar, para da melhor forma possível, fazer com que essas políticas sejam efetivas. Especificamente no âmbito da Educação, a SEEDF entende que essa articulação com a escola técnica trabalha tanto eixo da reinserção social como eixo da prevenção. Uma vez que a gente está contribuindo para a profissionalização desses dependentes químicos, que já passaram pelo eixo do tratamento. Além disso, estamos prevenindo eventuais regressos ao mundo das drogas”, relata a professora da SEEDF.

Fonte: Secretaria de Educação do DF