COMISSÃO DE AGRICULTURA PROMOVE DEBATE SOBRE CADEIA PRODUTIVA DE LEITE

 
 
NeuzaMenezes/AgênciaALBA

A cadeia produtiva de leite na Bahia foi o tema da audiência pública realizada pela Comissão de Agricultura e Política Rural na manhã desta terça-feira (24), presidida por Jusmari Oliveira (PSD). Reunindo representantes governamentais, produtores e legisladores, a reunião analisou a situação da Bahia, estado onde todos os municípios são produtores, mas que ainda não alcançou a autossuficiência nem a qualidade desejada para o leite.

Segundo o secretário Estadual de Agricultura, Lucas Teixeira, palestrante da reunião, o agronegócio impacta em 23,5% o Produto Interno Bruto (PIB) do Estado, o que demonstra a importância econômica do segmento. Ainda assim, a Bahia tem deficiências na produção leiteira, e elas se concentram, principalmente, na qualidade e quantidade do leite produzido.

Com um rebanho estimado em 660 mil cabeças, a produção baiana é de apenas três litros/dia para cada vaca. “É muito pouco”, afirmou o secretário, ele próprio produtor e especialista em técnicas de produção. Mesmo com a produção disseminada por todos os seus 417 municípios e registrando 100 mil produtores, o Estado gera 900 milhões de litros por ano, mas consome internamente muito mais, o que provoca déficit anual de 1,3 bilhão de litros.

AÇÃO

O Governo do Estado vem atuando no segmento e a Seagri lançou, inclusive, um programa para incentivar a melhoria da qualidade e da quantidade do leite baiano. Conforme o secretário, este salto passa, necessariamente e em primeiro lugar, pela nutrição do rebanho, pelo melhoramento genético e pela assistência técnica.

Atualmente, a Bahia produz mil litros por hectare a cada ano, mas este número deveria ser, no mínimo, três vezes maior. Ele defende a existência de políticas públicas que beneficiem e prendam o produtor no campo. Garante que a Secretaria que dirige vem atuando neste sentido e a Bahia será o único estado do Norte e Nordeste a ter um laboratório credenciado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ele vai funcionar no campus da Uesb em Itapetinga.

Na opinião do secretário, há um mercado consumidor ascendente que pode ser alcançado pelos produtores baianos. “Melhorando a qualidade poderemos exportar para outros estados e países. Há uma demanda crescente na Ásia e Europa”, apontou Lucas Teixeira.
Segundo ele, o Governo vem atuando no incentivo e aumento da produção, não somente na cadeia do leite, mas em várias outras culturas. A afirmação foi corroborada por Jeandro Ribeiro, chefe de gabinete da Secretaria de Desenvolvimento Rural que, nos últimos anos, já investiu R$ 1,2 bilhão na agricultura familiar.

ASSISTÊNCIA

São mais de 700 mil famílias assistidas na Bahia, informou Ribeiro, adiantando que a SDR trabalha com os sistemas produtivos, dentre eles o do leite. As intervenções estatais através de editais lançados pela Secretaria atingiu o montante de R$ 34 milhões. Quanto à produção do leite, o Estado incentiva não somente o aumento da qualidade e da quantidade, mas também a variedade de produtos.

Assim, a agricultura familiar vem lançando, no segmento de laticínios, produtos diferenciados como iogurtes de umbu, café, licuri e proximamente o de abacaxi fará companhia aos demais sabores nas prateleiras da cadeia varejista baiana.

O cenário atual na Bahia exibe 108.342 produtores de leite e rebanho de 659 mil cabeças. A meta do Governo do Estado é chegar a 2023 com um aumento significativo na produção, com cada vaca gerando 10 litros ao dia. Ao ano, produziríamos 1,4 bilhão de litros projetou Jeandro Ribeiro.

Mas para isso, será necessário superarmos alguns entraves. Na análise de Maurício Telles, coordenador do Plano de Ação Territorial (PAT) da Bacia do Rio Grande, a Bahia enfrenta problemas de logística, de infraestrutura de armazenamento e transporte, e de assistência técnica. Algumas destas questões a Secretaria da Agricultura vem tentando equacionar com a construção, por exemplo, de tanques de resfriamentos coletivos e a ação da Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) no fornecimento de assistência técnica aos produtores.

Segundo adiantou Telles, a ideia é duplicar a produção dia na Bacia do Rio Grande, que envolve os municípios de Angical, Baianópolis, Barreiras, Catolândia, Cotegipe, Wanderley e Riachão das Neves para que atinja 25 mil litros/dia. Se conseguir, os produtores irão faturar cerca de R$ 30 mil também por dia.

Para tentar suprir a carência de organização na cadeia produtiva do leite foi criada, no âmbito da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia, a Comissão Baiana da Cadeia Produtiva do Leite coordenada pelo Sistema Faeb/Senar com a participação de representantes do Governo do Estado, setor produtivo, universidades, entidades de classe e instituições privadas ligadas ao agronegócio. 

O objetivo principal da comissão é tornar a Bahia autossuficiente na produção de leite. Segundo a Faeb, a Bahia tem o sétimo maior rebanho de vacas ordenhadas do Brasil (880 mil vacas) e produz o equivalente a 2,55% da produção nacional. O Estado é o maior produtor de leite do Nordeste, com 22,8% de participação regional. Mas a produtividade ainda é de 975 litros vaca/ano, número inferior ao Ceará, Sergipe, Alagoas e Pernambuco. A média nordestina é de 1.076 litros por vaca/ano.

Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho deste ano, aumentou a produção de leite na Bahia, uma demonstração de recuperação do setor depois da grave seca de 2014 e 2015. Conforme apurou a Pesquisa Trimestral da Pecuária, a aquisição de leite cru na Bahia no primeiro trimestre do ano foi de 115,2 milhões de litros, quantidade 0,5% maior do que a do quarto trimestre de 2018, quando produzimos 114,6 milhões de litros, e 2,1% superior à do primeiro trimestre de 2018 (112,8 milhões de litros).

Foi o segundo melhor resultado desde 1997, quando o IBGE deu início à série histórica da Pesquisa Trimestral do Leite. Ainda de acordo com os dados oficiais, a aquisição de leite nos três primeiros meses deste ano ficou abaixo apenas da registrada em 2011. No primeiro trimestre deste ano, a Bahia foi responsável por 1,9% de todo o leite adquirido no país. 

Esta quantidade não dá prejuízo ao produtor, mas também não dá o lucro que já deu em outras épocas, adiantou o Secretário Lucas Teixeira, que se declarou bastante satisfeito em participar dos debates hoje na ALBA. Para a presidente da Comissão de Agricultura e Política Rural, Jusmari Oliveira (PSD), a audiência pública desta manhã reuniu todos os segmentos necessários para a construção de um cenário favorável à cadeia do leite baiano. “Foi o encontro de quem precisa com quem pode ajudar”, declarou.